Dizem que não somos nós quem escolhemos os livros; são os livros que nos escolhem. Às vezes, tenho a sensação de que o mesmo ocorre com filmes. Mesmo porque, cinéfila de paixão como sou, tenho muitos mais exemplos reais de filmes que me escolheram.

Doze horas de vôo, vasta opções de filmes europeus – os quais, nem todos com idioma ou legenda compreensíveis com poucos filmes conhecidos, resolvi me aventurar na lista de títulos disponíveis. Após algumas páginas visitadas, me deparei com um filme que, mesmo sendo de produção Alemã, seria apresentado num idioma que eu entenderia e cujo título me pareceu absolutamente convidativo: Hector em busca da felicidade.

Quem de nós não está em busca dessa tal felicidade? Seja com uma carreira de sucesso, com o reconhecimento profissional, vida pessoal equilibrada ou apimentada por uma paixão avassaladora, vida social dinâmica – na medida do nosso estilo, e o essencial, claro, ter saúde e desfrutar de uma vida saudável.

O protagonista é um jovem psiquiatra, consideravelmente  bem-sucedido, vivendo uma vida pseudo-perfeita em termos de profissão, vida social e pessoal. Em um dado momento, Hector começa a questionar a si próprio de onde viria aquele sentimento de vazio (quase que uma angústia),  que o acompanhava diariamente.

Ele então concluí que é infeliz, mesmo vivendo aquela vida perfeita, e que deveria sair pelo mundo em busca da felicidade. A razão lógica para a repentina viagem seria pesquisar o que é a felicidade, para que pudesse atender melhor seus pacientes. No fundo, o que ele buscava era descobrir como ele próprio poderia ser feliz.

Engraçado, mas também há uma máxima que questiona “ se é a vida que imita a arte ou a arte que imita a vida”. Eu, definitivamente, fico com a segunda opção.

Parecia que o enredo do filme fora baseado na minha história: carreira bem-sucedida, vida confortável e casamento perfeito. Ainda assim, havia um vazio. Quando a angústia chegou ao limite, assim como Hector, resolvi sair em busca desse algo que me faltava. Essa tal felicidade.

Minhas viagens e aventuras foram mais comedidas do que tudo que Hector vive no filme. Afinal de contas, não fui sequestrada e quase morta em uma vila na África do Sul. Ele foi. E foi salvo por mencionar o nome de uma das diversas pessoas que conheceu no caminho.

Nesse ponto somos iguais. Qualquer que seja a trajetória (e a minha ainda continua) a parte mais rica é a chance de conhecer pessoas. Fazer novas amizades. Construir novos laços. Nutrir esse networking. Isso é mágico. Nem sempre a magia é encantadora, porque nos deparamos com pessoas, gostos, culturas e modos de vida diferentes. Mas é na convivência com essa diversidade que crescemos e começamos a entender sobre a tal felicidade.

Em sua pesquisa Hector se depara com situações diversas, todas proporcionadas pelo contato com perfis e estilos diferenciados.

O banqueiro rico que ele conhece no avião, o convida a conhecer o glamour que o dinheiro pode comprar; hotel cinco estrelas, gastronomia requintada, exclusividade, balada, bebidas e mulheres. Resposta não foi encontrada; a busca segue.

Na aventura da noite ele conhece e se apaixona por uma jovem e linda Chinesa. Começa então a pensar que seria um novo amor que o faria feliz. Até que descobre que a profissão da oriental era “garota de programa”, e que naquela história havia de tudo menos amor. Novamente, sem resposta.

Pé na estrada, ele segue em direção a um mosteiro nas montanhas da China (confesso que ainda farei isso um dia, rsrsrs). Lá ele supera a si próprio, escala a montanha forrada de neve, finca sua bandeira no topo e recebe do monge o místico conselho de que durante a busca ele teria a resposta. Durante a busca haveria sinais que comporiam a resposta.

Com destino à África do Sul, conhece uma gentil senhora no avião. Ao questioná-la sobre o que a fazia feliz, recebe nada mais do que simplicidade na resposta: casa, família reunida, amor e um futuro melhor para os meus filhos. 

Ainda no país rústico e quente, encontra-se com o amigo de longa data que, segundo ele, exercia a medicina de maneira mais nobre, pois cuidava da saúde de comunidades carentes africanas. Por um tempo, Hector acompanha o amigo no atendimento aos moradores das vilas e, começa a sentir algo de diferente.

E é na mesma região que ele vivência um dos piores medos que já havia sentido; o medo real da morte. Ao ser sequestrado por uma quadrilha da localidade, emoções fortes e assustadoras veem à tona quando o chefe da gang resolve fazer “roleta russa” com o revólver apontado para a sua cabeça.

Feliz, livre, completo e cheio de vida ao ser liberado, Hector decidi ir a Los Angeles, em busca de uma antiga namorada; a qual ele ainda consideraria como o amor de sua vida. Com a vida estabelecida, casada, grávida e mãe de dois filhos, Agnes mostra a ele que o amor entre eles havia ficado no passado. 

De volta a Londres e à vida com a namorada, ele começa a encarar as mesmas situações de maneira diferente. A mesma casa, a mesma profissão, os mesmos amigos, os mesmos pacientes, mas ele mudado. O que reforça meu pensamento de que, mesmo com altos e baixos, a felicidade, está dentro de nós. Difícil é sair do pensamento à prática!!!!

Na vida real não há roteiro e contra-regras como nos filmes – o que torna a busca mais longa e sofrida, muitas vezes. Mas, cada vez mais tenho a certeza de que a busca em si e as pessoas que conhecemos no caminho é que nos fazem começar a encontrar as respostas.

Quando estava no topo da montanha e fincou sua bandeira Hector notou uma variedade de cores, quando o monge, sabiamente, explica que as cores diversas representam anseios diferentes. Cada um com o seu sonho. O seu desejo, sendo que num dado momento, o vento aproxima e sacode todas as bandeiras.

Talvez esteja aí a resposta. Seguir em frente, vencer o medo, estar aberto à novas vivências, prestar atenção aos sinais e, especialmente, aprender o máximo possível com cada pessoa que cruza nosso caminho.

Abraços. Até a próxima.

 

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