Ele tem apenas vinte e dois anos, mais de quinze milhões de seguidores em seu canal no Youtube e tem sido considerado uma das estrelas que fizeram fortuna como Vlogger nas redes sociais. Integra ou integrava a lista de “preferidos” de muitas redes, incluindo Youtube – o que significa que consegue monetizar suas postagens, simplesmente pelo fato de ter um número extraordinário de seguidores.

Em termos práticos e numéricos, e para título de comparação, o canal oficial da Nike tem 713 mil seguidores. Recentemente, lançou sua linha de roupa, chamada Maverick Apparel e fez algumas aquisições milionárias, como por exemplo uma mansão. De acordo com a Forbes, Logan recebe £ 110,000 por postagem do Facebook e £ 59,000 para postagens do Instagram patrocinadas.

Tudo ia muito bem para este jovem-vlogger-empreendedor até que um fato parece estar desencadeando sua ruína. Em dezembro do ano passado, em um de seus vídeos alegou que 2017 foi um ano ‘foguete’ – no mesmo mês, em outro vídeo este ‘foguete’ sofreu uma queda de proporções fortes e sobre as quais ainda não sabemos os impactos.

Em uma viagem ao Japão, produziu e postou vídeos da série “aventuras em Tóquio”, até que um deles foi o estopim.  Paul carregou um vlog retratando o cadáver recém-falecido de um homem que se suicidou pendurado em Aokigahara na base do Monte Fuji, no Japão, conhecida como “floresta suicida”.

O vídeo ganhou 6,3 milhões de visualizações dentro de 24 horas após ser carregado. Em 21 horas atingiu o número 10 na lista de tendências do YouTube, e após 22 horas contava com mais de 600 milhões de cliques ‘gostei’. Este último dado me deixa estarrecida – tema para outro artigo.

Como ainda podemos acreditar no poder de discernimento das pessoas – mesmo que seja de jovens adolescentes -, logo em seguida teve início a onda de indignação da comunidade virtual, a qual culminou, inicialmente, com a quebra de acordo com a rede Youtube.

Não sabemos o que vem a seguir, mas um único vídeo pode ter arruinado a marca pessoal de uma figura promissora. Como ator, Logan participou de séries e filmes consagrados. Em 2017 ele foi nomeado para as mais importantes premiação do mundo Web e ganhou os prêmios de “Homem Estrela da Internet” e “Comediante Estrela da Internet”.

Imagino que projetos e negociações com marcas consagradas buscando vínculo com a marca pessoal Logan Paul devem cair substancialmente em 2018. Muito embora o Vlogger tenha se retratado (após o início da enxurrada de críticas), o fato é que, apenas um ato ‘não calculado’ causou uma tremenda explosão no tal ‘foguete’, gerando impacto absolutamente negativo em sua imagem, poder de influência e rendimento.

Polêmica e contestações à parte, não vou entrar neste mérito, pois isso já tem sido ampla e globalmente pontuado, inclusive com declarações de ataque e defesa, mas o contexto nos sinaliza pontos de extrema relevância – os quais podem estar sendo negligenciados. Relevância para o peso dos valores, o choque entre culturas, o casual ato de pensar e o peso de tudo junto.

Vamos viajar no tempo, para entender valores e condutas que foram se perdendo. Quando eu tinha 22 anos (nem por decreto de lei digo em qual ano…rsrsrs) não havia rede social. Aliás, o sistema operacional Windows estava dando o ar da graça no ambiente corporativo.

O canal de comunicação com o mundo era a TV. Independente do viés político e econômico das emissoras de TVs, de certa forma, tudo o que chegava a casa da população passava pelo processo de produção, cujas equipes eram formadas por profissionais multidisciplinares.

Várias pessoas como parte do todo, com funções de planejamento, organização, contratação, produção e edição, para levar ao ar um programa televiso. Quando as famílias se reuniam na sala de TV, havia uma ‘certa garantia’ de que aquele conteúdo havia sido analisado e classificado como próprio.

Se você tem tem menos de 25 anos não vai entender o que estou falando, mas houve um momento na história em que a grande maioria das residências contava com um único aparelho de TV, para o entretenimento.

Enfim, num piscar de olhos, a hegemonia da TV foi derrubada pela atraente conectividade, rapidez e, o melhor de tudo, nos ofereceu o poder de escolha sobre o conteúdo visual que será consumido. Eu mesma assisto a poucos programas televisivos, porque prefiro escolher o que, quando e como assistir aos temas do meu interesse.

Aliás, de onde foi que fiquei sabendo sobre a polêmica envolvendo um dos mais influentes vloggers do mundo? De uma rede social.

Cabe a mim decidir se vou assistir a uma série Netflix ou um canal do Youtube, seja o horário que for – de madrugada ou enquanto me exercito na bicicleta da academia, ao invés de só ouvir sobre corrupção e escândalos políticos.

Até aqui, na verdade, creio que os avanços tecnológicos geram forte influência na liberdade de expressão e consumo. Quem brincou de Genius sabe o que estou falando e pode sentir na pele a transição pela qual passamos.

O problema é que o extremo chegou com a mesma velocidade. Sem nem mesmo viver o momento, as pessoas já o estão registrando – seja via imagem ou vídeo, e compartilhando.  E o pior, muitas vezes apoiados na retórica ‘é o meu perfil pessoal e eu posso publicar o que quiser’.

Então, cresce o número de casos que nos mostram o contrário. Não é bem assim, seja para uma pessoa comum ou uma celebridade. Alguém que use as redes sociais para entretenimento, contato com os amigos e familiares e, uma certa dose de curiosidade sobre a vida alheia, até para pessoas que se utilizam do poder das redes sociais para criar sua marca pessoal e ganhar dinheiro com isso. Por que não?

A fúria para contar ao mundo sobre o momento, talvez crie uma nuvem que bloqueia o questionamento e o discernimento. Zero de ponderação sobre a ação em si e análise dos impactos. Planejamento então, nem se fale.

Imagino que Logan Paul e seus amigos estavam passeando pela floresta quando se depararam com o corpo daquele suicida e, sem ao menos pensar, registraram e compartilharam. Simples assim, como se estivessem relatando qualquer outro elemento das diversas paisagens do Monte Fuji (confesso que até mesmo para escrever a palavra suicida já me deu um nó na barriga, por uma série de crenças e valores que fazem parte da pessoa que eu sou).

Novamente, imagino que, para o Vlogger aquele fato era apenas parte do enredo de algo que confirmaria sua influência e o retorno que ele traz para quem investe nele. Simples assim. Bola pra frente ou melhor, vídeo pra frente.

Quando vejo jovens que se tornam celebridades em um curto espaço de tempo, fico feliz em saber que as redes sociais democratizaram as oportunidades, mas ao mesmo tempo me questiono sobre quais os valores deste jovem, qual sua estrutura psicológica para enfrentar barreiras que a vida nos apresenta, o que o estimula e qual a sua busca.

Muita ‘web-celebridade’ é movida a número de seguidores e quantidade de cliques. E do ponto de vista mercadológico, isso é válido, afinal de contas estas são as métricas das próprias plataformas.

Nos resta entender e refletir sobre causas e efeitos. Sobre o que nos leva a agir de determinadas formas, diante de um universo desconhecido. Quais os limites deste mundo virtual? Vale tudo em troca de cliques e audiência?

A própria rede Youtube levou dias e dias discutindo sobre quais ações tomaria com relação ao fato. Gostaria de dizer que o conceito de ‘moral e valores’ tenha guiado a decisão dos executivos da rede Youtube, mas não acredito nisso.

Por outro lado, a partir do momento em que a moral e os valores de milhares de seguidores pesaram contra o fato, aí sim os temas entraram na agenda de discussão, e o então mega-influente homem estrela da internet foi punido.

Jonah Berger, autor do best-seller Contagious, em seu livro A influência Invisível. A força escondida que molda comportamentos, afirma que a influência social só funciona quando a opinião ou comportamento das pessoas é observável”.

E é isso que me deixa aliviada e feliz. Saber que a nossa opinião pode influenciar inúmeras decisões, simplesmente por conta da força que nos é transmitida com um simples perfil nas redes sociais. Cabe a cada um ponderar estrategicamente como utilizá-la.

Obrigada por sua leitura e até a próxima.

Abraços. Luciane Borges

Sobre a autora –

Geminiana, apaixonada por aprender e ensinar, fissurada pelo poder das redes sociais, sou executiva de comunicação, relações públicas, estrategista de mídias sociais, e palestrante, com MBA em Comunicação Corporativa pela Fundação Getúlio Vargas. Após atuar por mais de 20 anos em multinacionais dos segmentos B2B e B2C, desenvolvendo projetos para construção de reputação e consolidação da marca, resolvi inovar na carreira, mergulhando no universo digital.

Hoje, assessoro profissionais e empresas a construírem e fortalecerem reputação digital, por meio de posicionamento estratégico nas redes sociais profissionais. Idealizadora da BeIn Digital, ministro cursos online sobre LinkedIn, sou palestrante sobre o tema e conduzo workshops – visando à ensinar os profissionais a explorarem tudo o que o LinkedIn oferece.

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4 respostas

  1. Parabéns pela abordagem do tema. Bom senso e discernimento estão sendo negligenciados, uma vez que os valores de muitas pessoas estão baseados apenas em números de ‘likes’ e fama.

  2. Como sempre muito oportuno e focado o seu comentário, Luciane. A destacar: “Muita ‘web-celebridade’ é movida a número de seguidores e quantidade de cliques. E do ponto de vista mercadológico isso é válido, afinal de contas estas são as métricas das próprias plataformas.

    Nos resta entender e refletir sobre causas e efeitos. Sobre o que nos leva a agir de determinadas formas, diante de um universo desconhecido. Quais os limites deste mundo virtual? Vale tudo em troca de cliques e audiência?”.

    Não. Não vale, principalmente para pessoas idealistas como você. A propósito, em vez de se apresentar como geminiana (signo sob o qual nasceu), sugiro que se apresente de acordo com seu temperamento (idealista), que reflete muito mais a sua essência.

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